quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ave de Prata





Ave de Prata
(Elba Ramalho – 1979)



       Psicodelia musical nordestina: o termo é tão impreciso quanto não-esclarecedor. Mas junte no final dos anos 1970 Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Robertinho do Recife e Elba Ramalho todo tipo de doideira musical, experimentações e letras lisérgicas. Temos, em 1979, o final da mais profícua fase da música boa e verdadeira feita no litoral do Nordeste, antes da abdução de artistas como Alceu Valença, Zé Ramalho e Fagner pela nefasta Rede Globo (mas isso é um outro papo) e muito antes de 1994 quando Chico Science explodiu com a zorra toda.

            Vamos nos ater ao maravilhoso Ave de Prata. Álbum debut da Paraibana Elba Ramalho, arrebatou todo mundo, porque esse disco foi gerido por artistas nordestinos (quase todos os compositores, músicos, arranjadores e pessoal da técnica) e pela extrema qualidade técnica de sua intérprete, que quase 35 anos após seu lançamento pelo selo CBS/Epic, surpreendeu-me nas faixas 1 (Canta coração) e 3 (Veio d´água) do lado A e a 2 (Kukukaya – Jogo da asa da bruxa) do lado B. Claro que todas as faixas são muito boas. Apenas estou a destacar essas específicas. Os cabeças na produção, instrumentação e orquestração dos arranjos para cordas foram o Geraldo Azevedo e o Zé Ramalho, que dispensam apresentações.

                Este álbum chegou às minhas mãos de forma curiosa: primeiro, eu não fazia ideia de que o Ave de Prata tinha sido o álbum de estreia da Elba; segundo que um amigo do meu pai, que sabia da minha paixão por vinis, por intermédio de Painho, me presenteou com alguns LP´s antigos que ele outrora comprara. Entre discos do Trem da Alegria, trilha sonora de novelas e samba enredos, figurava o Ave de Prata, todo sujo, fungado, com a capa zoada (que já consumiu uns três dias na recuperação) e o encarte em petição de miséria.  Limpei o disco e o botei pra girar: boa execução, com estalos pronunciados em algumas partes baixas e estalidos suaves durante toda a face A e B, devido à má conservação da mídia. Nesse momento irei incorporar esse LP na minha coleção, com o disco sambado, mas tocando a pleno vapor.

Sem mais delongas, eis o arquivo para download do Ave de Prata no 4shared: http://www.4shared.com/folder/jt9hFHij/Ave_de_Prata.html





sexta-feira, 21 de junho de 2013

Música popular do norte



Música popular do norte
(vários intérpretes - 1979)



Esqueça todo o estereótipo que você faz sobre a cultura musical dessa região do Brasil, uma vez que você provavelmente não sabe muito sobre a verve artística popular do norte.

Após uma introdução duríssima dessas, se você, nobre leitor, continua a ler essas más escritas linhas, mereces sorver pela orelha o suprassumo da BOA música produzida na região norte. Quero fazer dois breves adendos: esse LP é de 1979 e, por motivos claros, não tem incorporado o ritmo que no Pará se chama “guitarrada”, que eu, particularmente, acho muito bom. O outro adendo é sobre a qualidade sonora de algumas faixas: o negócio é, realmente, tosco. Foram gravações feitas in loco, com som direto, sem mixagens...o mais puro trabalho de registro etnográfico, à guisa de Mário de Andrade.

A abertura do disco é com a canção “Rolinha” e pode causar estranheza. Sem sotaque e com um acompanhamento sofisticado de um choro e um pequeno naipe de camerata, essa canção interpretada pela Jane Vaquer (aka Jane Duboc) introduz de forma musicalmente cosmopolita o resto do disco que tem dobrados com temas nortistas (Boi Bumbá), uma peça com piano e violinos bem ao estilo do maestro Waldemar Henrique (Morena), “pajelanças”, carimbós, batuques, “bois”, cirandas, ladainhas etc.

Uma curiosidade: prestem atenção na terceira música do lado B “O navio ‘Presidente’ está no fundo”. O intérprete canta “arquipélego” ao invés de “arquipélago”, denotando a verdadeira entoação da forma mais pura que uma canção deve ser registrada.

Esse LP é o disco síntese (compilação) da maravilhosa coleção com quatro volumes, Música popular do norte (todos editados pela Discos Marcus Pereira). Eu optei por gravar o LP em duas faixas (lados A e B) somente pelo fato de que o intervalo entre as músicas é muito exíguo. Contudo, irei detalhar a sequência e os nomes de todas as músicas abaixo:

Lado A

Lado B

1 – Rolinha
2’03
1 – Sonho de criança
4’14
2 – Uirapuru
1’43
2 – Moreninha
2’30
3 – Boi Bumbá
1’38
3 – O navio “Presidente” está no fundo
2’06
4 – Morena
2’21
4 – O pau rolou
2’02
5 – Cabocla bonita
1’07
5 - Marambiré
1’06
6 – Boi do Amazonas
1’54
6 – Desfeiteira
2’11
7 – Me dá, me dá, moreninha
2’04
7 – Dança dos imperiais
1’24
8 – Boi de orquestra
1’35
8 – Dança do cacetinho
1’35
9 – Boi de Madre Deus
1’52
9 – Dança da caninha verde
1’40
10 – Baralho
3’00




Sem mais delongas, eis o arquivo para download do Música popular do norte





sábado, 18 de maio de 2013

Sua Sanfona e Sua Simpatia




Sua Sanfona e Sua Simpatia
(Luiz Gonzaga - 1966)


                 Está aí um cara que tem uma das discografias mais complicadas de se destrinchar. A coisa parece um ninho de rato. Explico: a maioria das composições do Lua foi feita e gravada entre os anos 40 e 70 do século XX, em 78 rotações, LP´s, compactos etc. de modo esporádico. De tal forma que em um LP “novo” tinham músicas novas e antigas (regravações), o que torna quase impossível determinar uma cronologia e detectar os discos com inéditas (para se fazer uma discografia “oficial”). Uma tentativa foi realizada, mas não é 100% confiável, em: http://www.gonzagao.com/discografia_de_luiz_gonzaga.php.


                    Este LP que vos apresento, portanto, acho que não deve ter nenhuma música inédita (sendo considerado um LP “coletânea”). Mas eu o incluí aqui, porque mesmo sendo um grande enxerto de regravações, o disco apresenta uma unidade rítmica muito harmoniosa, como se as músicas não fossem um “ctrl c + ctrl v” das fitas másteres de estúdio.


                Meu exemplar (“roubado” da coleção do meu pai) está bem usado, porém sem estalos pronunciados ou trechos engasgados. Nas passagens baixas há um leve chiado característico dos LP´s que já tocaram muito em churrascos/festinhas nos anos 70 e parte dos 80 do século que passou. Dica: ouçam esse disco com fones potentes e aproveitem o chiar. Gravado pela RCA VICTOR/CANDEM esse LP tem seu auge do meio para o final do lado A, mas vale à pena a audição completa, afinal um Gonzagão é um Gonzagão.


        Sem mais delongas, eis o arquivo para download do Sua Sanfona e Sua Simpatia
no 4shared: http://www.4shared.com/dir/mxji8TIt/Sua_Sanfona_e_Sua_Simpatia.html




domingo, 5 de maio de 2013

Paranormal Songs




Paranormal Songs
(Malbec - 2012)


                Esse post, com essa data de lançamento do álbum (2012) parece estranho, mas não é. É isso mesmo. Lançado pela INVERN RECORDS, Paranormal Songs marca o debut fonográfico dessa banda de Manaus, capital do Amazonas. Qual razão de eu incluir um disco lançado em 2012, muito bem documentado na internet (formatos MP3, FLAC e WAV) e tendo canal próprio no YouTube®? Como já havia discutido aqui no blog sobre critérios de raridade, ter arquivos MP3 não desmerece o critério “baixa tiragem”. E Paranormal Songs já nasceu raro: foram lançadas 1.000 cópias em CD e 500 em LP. Daqui a 20 anos, ter uma cópia física do PS, que além de tudo é um disco muito bom, será uma raridade inigualável. Quero ver daqui a 20 anos, neguinho ousar falar: “tenho o primeiro álbum da Malbec em MP3”. Essa assertiva nunca soará como: “tenho o primeiro LP da Malbec”.


                O meu LP está zero km, apesar de uma falta muito grave ocorrer nessa mídia: não há encarte, nem informações na contracapa que indiquem o nome dos integrantes da banda e informações extra-adicionais como produção, nome dos técnicos envolvidos durante o processo de gravação etc. Isso é uma falha grave que não se justifica.


                Sobre a obra tecerei poucos comentários: o álbum é muito bom. Rotulando-o, a sonoridade lembra o pós-punk Inglês do começo dos anos 1980. O legal é a mistura meio a meio de canções em português e em inglês, o que faz do conjunto, uma obra não monótona. A primeira faixa começa meio embolada, sem dar o recado bem dado. Mas essa impressão se dissipa em “Relógio da Torre” e “Calo”, duas putas faixas. Daí chega a que, para mim, é a melhor música: “Fitas Livres”. O resto é história e vos lhes convido a ouvir Paranormal Songs por inteiro.


                Sem mais delongas, eis o arquivo para download do Paranormal Songs no próprio site da banda: http://www.malbec.mus.br/site/


       Para quem quiser um pouco mais, aqui vai o link do canal no YouTube® da banda: www.youtube.com/malbecmusic






domingo, 21 de abril de 2013

Alegria, Alegria !!!!




Wilson Simonal
(Alegria, Alegria!!! – 1967)

                Sempre é ótimo escrever sobre o Wilson Simonal, sem ter que dar um viés político ao papo. No máximo irei falar na “CarlosImperialização” da música nacional e suas implicações sobre a obra do Simonal e desse LP em especial. Para os FARISEUS musicais que entendem TUDO de Indie Rock e nunca ouviram falar em Carlos Imperial, ele foi um dos principais agitadores do movimento Jovem Guarda, produtor de quase todos os grandes nomes desse movimento e já no início do fim de sua “carreira”, o “Gordo” (apelido do Imperial, segundo Nelson Motta), ganhou uma sobrevida com a super promoção em torno do Wilson Simonal.

                Esse disco é uma mistura de show com auditório cantando junto com elementos vocais intervindo nas canções de uma forma que eu particularmente acho ... estranha (talvez o traço mais evidente da “CarlosImperialização” da obra do Simonal – para dar ares de produção popularoide). Com uma mistura de canções de domínio popular como “Os escravos de Jó” e “Para Pedro” e canções sem apelo POP como “Remelexo” (do Caetano Veloso). Aqui eu coloco entre aspas um trecho da Wikipédia que fala sobre o Alegria, Alegria!!! (1967): “O disco era pilantragem pura, com várias cantigas de roda, palmas, muita gente no estúdio durante a gravação...”. Com todas as músicas muito bem orquestradas pelo “Cezar Mariano”, que acredito ser o “César Camargo Mariano”, esse álbum tem uma estrutura clara e um começo, meio e fim. Minha faixa predileta é, obviamente, “Nem vem que não tem”.

                Sem mais delongas, eis o link do arquivo no 4shared. Fotos: internet.

http://www.4shared.com/dir/wK6bDvhm/Alegria_Alegria.html





domingo, 14 de abril de 2013

Krishnanda



Pedro Santos
(Krishnanda - 1968)
por Lys Araújo

PEDRO SANTOS ou PEDRO SORONGO (02/10/1919 - 23/02/1993), percussionista, inventor de instrumentos, compositor, poeta, filósofo, artista plástico, performer, visionário, foi o precursor de tudo que você vê hoje em dia com a percussão: a pesquisa, a experimentação, a liberdade.

Tocou e gravou com grandes artistas da música brasileira: de Jacob do Bandolim e Pixinguinha a Milton Nascimento, passando por Canhoto, Severino Araújo & Tabajara, Waldyr Azevedo, Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Candeia, Baden Powell, Sebastião Tapajós, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Paulinho da Viola ... até Paul Simon! Teve suas músicas gravadas por Altamiro Carrilho, Ângela Maria, Elza Soares, Canhoto, Baden Powell, Sebastião Tapajós, Os Baluartes, Época de Ouro e Raul de Barros.

Mais informações sobre vida e obra do Pedro Sorongo em: http://www.pedrosorongo.blogspot.com

O seu único LP solo, 'KRISHNANDA' (1968), com arranjos de Pachequinho e produção de Hélcio Milito, um disco totalmente experimental, de cunho 100% filosófico-espiritual, nem um pouco comercial, ficou esquecido por décadas ... Nele, meu pai, teve total liberdade de ação para criar, ousar, experimentar, usar seus instrumentos únicos, com variações timbrísticas e polifonia totalmente inéditas e inusitadas. Além de poder cantar suas próprias composições, né?!

Graças à internet e aos pesquisadores viciados por discos de vinil, esse LP foi 'redescoberto' pela nova geração ... (sempre me surpreendo com a idade dos fãs do meu pai!) ... acho que isso vai de frente ao vanguardismo dele. É uma consequência natural: ele adorava estar entre os jovens.

Meu pai não tinha bandeiras, era avesso aos 'ismos' ... E para ele, a boa música não tinha nacionalidade, nem idioma ... O que importava era a liberdade, criatividade, respeito. Meu pai seguiu criando até o fim da sua vida.

(Lys Araújo)

*

Curtam a FanPage do Pedro Sorongo no facebook: https://www.facebook.com/pages/Pedro-Sorongo/178211742217584

Para quem quiser ouvir o Krishnanda “full album” pelo YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=DRk-4WdsN9w

Sem mais delongas, eis o link do arquivo no 4shared. Fotos: internet.

http://www.4shared.com/dir/OPZeJ_GT/Krishnanda.html









sábado, 6 de abril de 2013

Espelho Cristalino




Alceu Valença
(Espelho Cristalino – 1977)

Lançado pela Som Livre, em 1977, sob a produção do Guto Graça Mello, esse é o quinto LP do Alceu, sendo o terceiro LP solo, depois do “Molhado de suor” (1974) e “Vivo” (1976). Informações pormenorizadas sobre cada disco de sua carreira e ficha técnica completa estão disponíveis no endereço: http://www.alceuvalenca.com.br/ na aba “obra”. Vale muito a pena conferir o site.

                Meu LP está muito bem conservado, tanto o disco em si quanto o encarte e a capa. Curiosas são duas anotações na contra capa: uma sobre a comemoração do centenário do som gravado (1877-1977) e uma pequena anotação assim “Censura: Protocolo Geral nº 4129”. Até onde eu pude me informar, esse disco do Alceu não sofreu nenhuma censura ou corte ou modificação artística. “Espelho Cristalino” tem como característica marcante o “experimentalismo psicodélico nordestino” mais exacerbado, pois Alceu Valença já era um nome grande na Som Livre e nesse disco teve a chance de colocar seus toques pessoais de forma mais “independente”. Meus destaques pessoais vão pra faixa “Dança das Borboletas”, a faixa título “Espelho Cristalino” e a faixa de abertura do LP “Agalopado”.

                Para quem é fã “Best of” do Alceu, este álbum é altamente não recomendado, pois não tem nenhum grande sucesso de trilha sonora de novela. Vindo da experiência pretérita de tocar com Lula Côrtes e Zé Ramalho no mitológico disco Paêbirú (1975) e mesclando ritmos nordestinos à psicodelia musical, A. Valença pari “Espelho Cristalino”, com oito faixas. Tecer comentários sobre as músicas, aqui, é tarefa inútil, pois Alceu não segue uma linha rítmica óbvia, passando desde o “frevo”, pelo “maracatu” até chegar a um cross country from USA – na faixa título deste álbum - com toques da musicalidade regional do Nordeste.

                Sem mais delongas, eis o link do arquivo no 4shared. Fotos: internet.

http://www.4shared.com/dir/GrEYCnem/Espelho_Cristalino.html